terça-feira, 1 de abril de 2008

Dois pra lá

Eu era uma zebra
Preto no branco
Branco no preto

Cor sim
Cor não

Beijava o vento
Deitava na grama
Corria sem dó

De ser só

Pulei a cerca
Desfiz o vestido da moça
Adormecida de susto

Fugi da baia

Sequei a saliva
De tanto correr
De tanto querer morrer

Não é fácil
Viver pela metade
Chorar de saudade

Mandei telegramas
E nada descobri
Órfão desde sempre

Chorei

Zoológico
É o Carandiru dos animais
Morri de mim

Encontrei o menino
Que me ensinou a dançar
Dois pra lá, dois pra cá

E comecei a viver
No circo

E lá
Trabalhava um mágico
Que também era empacotador de supermercado

Ela fazia tudo desaparecer

Implorei
Mas ele negou
Paguei
Mas ele não aceitou

Decidi

Dar uma de equilibrista

Herdei ainda mais listras
Marcas da rede de proteção

Que me devolveu
Para sempre

Deu zebra.

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