sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Tempo

Me procuro nas rugas das mãos
Na linha da vida
(que nunca soube qual era)
Nos anéis
que envelhecem com os dedos

Me procuro
no reflexo da janela
fechada
No relógio de pulso
parado

Me procuro
Nos segundos
De um tempo
que despenca
e me falta

Me encontro
ajoelhada
em um canto de mim
rezando
em silêncio

implorando
para que a luz não venha
e eu não corra o risco
de me enxergar
velha

E que se espalhem
as cinzas
da minha juventude.



Julia Duarte.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Eu digo.

Eu digo
e não acredito

Eu digo
e repito baixinho

Eu digo
e ouço a voz tímida e trêmula

Eu digo
pra mim mesma

Eu digo
de novo

Eu digo
e ainda não acredito

Eu digo
um pouco mais alto

Eu grito
e me jogam tomates

Eu grito
e me acusam de mentirosa

Eu grito
e tentam pregar meus lábios

Eu grito
E muitos ensurdecem

Eu grito de novo
e a mentira vira verdade

Julia Duarte.